*por João Marques Chiles

Há menos de um ano caiu em nossas mãos – entidades e movimentos sociais – um documentário sobre o Rio Pardo chamado “Rio Pardo: um rio marcado para morrer”. Filmado no final dos anos 80 e editado em 90, foi dirigido pelo poeta e videasta Jorge Melquisedeque, funcionário da UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – de Vitória da Conquista-BA. Com uma linguagem bastante poética denúncia, da nascente a sua foz, os motivos que o levava à conclusão de que o Rio Pardo estava marcado para morrer.
Hoje percebemos que muito pouco foi feito na defesa do Rio Pardo e que a linguagem denunciante do vídeo-documentário continua extremamente atualizada mesmo vinte e cinco anos após sua edição. Monocultura do Eucalyptus sp., grandes barragens, esgotos, resíduos industriais, agronegócio e mineração foi naquela época e continua sendo apontados como as causas que nos levam a acreditar que sua morte está cada vez mais próxima.
Pensar na defesa de uma bacia hidrográfica como a do Rio Pardo é pensar globalmente e agir localmente é preciso pensar de forma coletiva e articulado. Por isso, aceitei o convite do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Rio Pardo e do Centro de Agricultura alternativa do Norte de Minas – CAA, para participar de um evento, com o objetivo de conhecer e avaliar o contexto social, político, econômico e cultural do Rio Pardo. Este encontro – Encontro Popular da Bacia do Rio Pardo – aconteceu em Canavieiras-BA, na sede da AMEX – Associação Mãe dos Extrativistas da Resex de Canavieiras, de 9 a 11 de julho de 2015.
O encontro teve apoio do Fórum de Entidades e Movimentos Sociais do Sudoeste da Bahia, Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas Gerais (CAA), Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), Fórum de Luta por Terra Trabalho e Cidadania da Região Cacaueira e Heks Brasil. Os trabalhos foram iniciados com a exibição do documentário “Rio Pardo: um rio marcado para morrer” e da apresentação de um diagnóstico sobre a bacia do rio Pardo, com dados físicos, econômicos e sociais e informações dos participantes sobre as suas microbacias.

As possibilidades de atuação articulada e planejamento de ações também integraram a pauta do encontro. Com uma metodologia bastante participativa discutimos diversas possibilidades de atuação articulada em defesa das comunidades populares e tradicionais da Bacia nos estados da Bahia e de Minas Gerais com uma agenda bastante propositiva pela frente que iremos conhecer aos poucos.
Particularmente foi gratificante participar deste encontro, conhecer as diversas lutas, histórias e desafios dos povos e movimentos sociais do médio e baixo Rio Pardo. Mais emocionante ainda foi conhecer sua foz e imaginar cada desafio enfrentado pelas suas águas ao longo de seu percurso: Dar vida aos agricultores familiares, produzir agronegócio, gerar energia, suprir a indústria, saciar os animais, dissolver o sangue derramado pela cultura cacaueira ao longo dos séculos, gerar pescados e ainda locomover muitos habitantes. De sua nascente na serra do Espinhaço em Montezuma-MG a sua foz no oceano atlântico ainda tem tudo isso para nos oferecer hoje. Ainda tem.
*Publicado em 15 de julho de 2015 em Dinei Leão.