O desenvolvimento da infraestrutura é fundamental para o progresso das várias regiões do país, no entanto, esse tipo de investimento que interfere diretamente na vida das pessoas e no meio ambiente precisa ouvir os que serão atingidos. No semiárido, a água é a maior riqueza, colocar em risco os principais sistemas hídricos de uma região é uma atitude genocida do capital.

Existem previsões de que a região caminha para a desertificação, os rios estão morrendo, interferir neste sistema de maneira tão agressiva, sem possuir estudos consistentes é um ato de irresponsabilidade dos agentes públicos e privados envolvidos. É preciso que haja um debate bastante claro e respeitoso entre a sociedade civil, governo e iniciativa privada, a anuência política de agentes locais, não deve substituir a devida análise de viabilidade do projeto.

A região que sobrevive da agricultura familiar, terá seu modo de vida afetado para viabilizar um empreendimento privado, o risco é muito alto e o impacto é desconhecido. Usar o argumento do combate à pobreza na região para impor um projeto arriscado e, que se viabiliza através de um emaranhado de empresas para burlar a legislação vigente, não é honesto da parte da mineradora SAM. O sistema natural será impactado e as consequências são desconhecidas, não impacta somente o local da mina, mas ao longo da extensão ocupada pelo mineroduto que vai de Grão Mongol-MG à cidade Ilhéus-BA.

O projeto que se propõe inovador, ainda se encontra no mundo da abstração, as características da região não serão simplesmente suprimidas pela planta do empreendimento. Em plena crise climática em que as perspectivas são de estresses de toda natureza, com confirmação da continuidade do aquecimento global pelos próximos anos e, em se tratando de uma região semiárida onde o recurso hídrico é tão escasso, as argumentações da iniciativa privada precisam estar fundamentas por estudos de impactos sérios, não deve viabilizar-se através de contabilidade criativa e divisão de responsabilidade entre as empresas criadas para leva-lo a diante, depois da negativa inicial do IBAMA.

Esse é um tipo de empreendimento que precisa ser compreendido como um todo, pois impacta sistemas vivos e complexos como bacias hidrográficas, comunidades tradicionais e os moradores de toda a região.

Minério de ferro é uma das comodity mais valorizadas atualmente no mercado internacional, e continuará se valorizando ao longo do tempo, por isso mesmo, esse olhar ambicioso para a “pobre” região do Norte de Minas é, na verdade, o atendimento do interesse de investidores, em sua maioria capital estrangeiro negociado em bolsa, ou seja, quando explode uma barragem, por exemplo, não tem quem os atingidos possam responsabilizar diretamente, veja o episódio de Mariana.

É preciso que haja transparência no processo de implantação do Bloco 08, que apresentem estudos consistentes. Barragem não garante água num contexto em que as nascentes estão sendo destruídas e que o desmatamento acelera o assoreamento dos rios utilizados sem critérios bem definidos pelo agronegócio. Quando se destrói os rios, seus afluentes e a mata ciliar, simplesmente, os barramentos não segurarão nada mais que areia.

Além disso, transferir a responsabilidade de aprovação do projeto para a secretária de estado e o IBAMA do Estado de Minas, sendo que o projeto impactará bacias hidrográficas federais não parece ter a segurança jurídica necessária. A água não apenas escorre até o mar da nascente à foz, primeiro abastece os lençóis freáticos, irriga os afluentes que depois se encaminham para a calha principal, o problema é que esse sistema hídrico está afetado e os rios podem deixar de existir, ou seja, a água pode simplesmente migrar se continuarmos eliminando as condições de vida das bacias hidrográficas. Isso ocorre devido ao desmatamento crônico e ao continuo assoreamento dos rios da região.  

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