Exercício da participação política e enfrentamento do machismo são alguns dos desafios daquelas que estão em luta permanente em defesa do Rio Pardo

A região média da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo (BHRP) fica localizada entre o município mineiro de Águas Vermelhas a partir da barragem até o município de Itapetinga (BA), passando por Cândido Sales, Encruzilhada, Vitória da Conquista e Itambé. Ao todo, a BHRP transpõe 37 municípios e percorre 782 km da nascente à foz.

Marcada por conflitos socioambientais, a região média da bacia sofre o impacto do clima semiárido, presença de monoculturas irrigadas e ausência de política de saneamento básico. É nesta realidade que mulheres lutadoras atuam através dos movimentos sociais e entidades que defendem pautas como a agricultura familiar, inclusão produtiva, água como bem comum, meio ambiente e os direitos da trabalhadora e do trabalhador. Elas atuam em espaços de permanente diálogo com a sociedade, como associações comunitárias, sindicatos, pastorais e organizações voltadas ao desenvolvimento social.

Telma Santos Amorim, agricultora familiar de 46 anos, atua desde 2003 no Sindicato dos Trabalhadores  Rurais (STR) de Cândido Sales, na Bahia. Atualmente, ela é presidente da entidade e também coordena a associação da comunidade rural do Boi Bravo, povoado onde possui uma propriedade familiar e passa parte do seu tempo com seus pais idosos. Lá, Telma também coordena a Comunidade Eclesial de Base (CEB). Com tantas atividades, equilibrar as demandas é um desafio para a agricultora:

Telma Santos Amorim – Audiência Pública na Câmara de Vereadores sobre a crise hídrica em Cândido Sales – BA / Foto – Núcleo de Comunicação ARP  

 “Ser mãe de família, dona de casa e dirigente de movimentos sociais não é brincadeira, é um desafio grande porque a gente precisa dar um pouquinho de atenção em cada lugar”, explica Telma.

Machismo dentro e fora da política

Telma afirma que, infelizmente, ainda existe machismo nos espaços de luta. Para ela, às vezes parece que alguns companheiros homens pensam que a mulher não tem capacidade de levar adiante nem mesmo as atribuições dos cargos que assumem nas organizações sociais e nos movimentos. O machismo ainda é notório, porque muitas vezes no olhar ou até na expressão de algumas pessoas parece enxergar a gente com inferioridade por a gente ser mulher”, salienta.

A assistente social e pedagoga Edilene Alves da Silva, 37 anos, concorda. Dila, como é conhecida, está há duas décadas na militância em movimentos sociais na defesa do meio ambiente e há três anos atua no Centro de Estudos e Ação Social (CEAS) e na Comissão Pastoral da Terra (CPT). Ela destaca que a insegurança que o machismo constrói nas mulheres é um dos desafios para que outras companheiras consigam se expressar na política.

Edilene Alves Silva – Canavieiras – BA, região do Baixo Rio Pardo / Foto – Núcleo de Comunicação ARP

“Umas das dificuldades que a gente tem está relacionada ao empoderamento da mulher. As mulheres da nossa região aqui do médio Rio Pardo muitas vezes sentem-se inseguras nos espaços destinados a falas relacionadas às questões diversas que envolvem a mulher”, aponta. 

Tripla jornada de trabalho

Reconhecida pelo bom humor e alto astral, Maria Leide Teixeira, de 53 anos, anima os ambientes com sua presença. Agricultora familiar, Leidinha, como é conhecida, é presidente da Associação de Moradores e Pequenos Produtores do Povoado de Espírito Santo – ACOMPPES, no município de Cândido Sales. Mãe de 4 filhos adultos, ela aponta que o maior desafio de ser mulher neste contexto de luta são as múltiplas funções que precisa exercer.

Maria Leide Teixeira – Visita do CEAS na roça para falar da passagem do mineroduto da SAM/Lotus pelo município de Cândido Sales – BA / Foto – Núcleo de Comunicação ARP

“É muito desafiadora a vida da mulher: ela cuida de filho, cuida de casa, cuida do trabalho, boa parte cuida de idosos, pessoas especiais e ainda se responsabiliza em abraçar a causa de uma comunidade”, destaca.

Mãe de Dominique, de dois anos, Edilene destaca que um dos períodos mais desafiadores da maternidade é nos primeiros anos da criança, quando o bebê necessita de atenção e cuidados como a amamentação. Apesar de não generalizar, Dila diz que nesses momentos sente falta de gestos de companheirismo para lhe dar suporte.

“Nesses últimos dias mesmo, eu passei por uma dificuldade imensa porque eu estava levando minha filha pra campo e os horários de almoço não estavam tendo uma flexibilidade na questão. Por exemplo, tentar almoçar num horário mais cedo para Dominique comer, ou então eu sair mais cedo pra dar uma comida, ter os cuidados com sua filha. Isso é uma dificuldade que a gente encontra”, explica Edilene.

Apesar de todos os desafios, Leide salienta a força das mulheres e que é importante valorizar o protagonismo que as companheiras têm assumido nas lutas da região. “Isso é muito difícil, mas não é impossível porque a mulher é incrível nessas atividades. Tiro o chapéu pra todas as mulheres”, conclui a militante.

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