Toda atividade humana surge na tentativa de superar as necessidades para a sobrevivência, e a exploração mineral não é diferente. No entanto, a proporção que essa atividade tomou no Brasil, impulsionada pelas grandes empresas e capital estrangeiro, coloca em risco a vida de milhares de famílias em nosso país, especialmente as mais pobres.
Confira abaixo quatro mentiras que mineradoras contam para nos enganar sobre os verdadeiros riscos desses projetos:
1. A Mineração não impacta o meio ambiente
A mineração está longe de ser uma atividade limpa. Ela impacta o ar, a água, o solo, os organismos aquáticos, provoca assoreamento dos rios e desmatamento. Além disso, interfere na forma de vida das pessoas no território, causando a expropriação de muitas famílias das suas casas e gerando ainda mais pobreza.
O pesquisador Tádzio Coelho estudou o impacto da mineradora Vale no projeto Grande Carajás, uma iniciativa implantada em 1978 entre os estados do Pará e Maranhão. Segundo Coelho, o modelo de desenvolvimento das mineradoras, como a Vale nesse projeto, não leva em conta as consequências irrecuperáveis da atividade extrativa mineral para a natureza e o modo de vida das pessoas do território. Já aqueles que lucram com as minas estão bem distantes das áreas de impacto.
2. A exploração mineral é segura
De acordo com o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), a mineração é a atividade que mais causa conflitos no mundo, seguida pelo acesso à terra. Segundo artigo de 2012 publicado pela Public Eye, a Vale, principal fornecedora de minério, também é considerada como a pior empresa do mundo pela maneira como interfere nos territórios, afetando a vida das pessoas para sempre.
No caso da Estrada de Ferro Carajás – EFC, com os seus 892 km passando por 26 municípios das minas até o porto, provocou, desde sua instalação até 2012, 175 mortes causadas por atropelamentos nas ferrovias da empresa Vale, além de acidentes de trabalho e doenças relacionadas, como aponta o estudo do Ibase.
Casos como os de Mariana e Brumadinho revelam o grau de insegurança que esses empreendimentos representam para as pessoas. Sem a fiscalização necessária e sistemas de alerta e segurança, comunidades inteiras foram tomadas com o rompimento das barragens de rejeito das empresas Samarco Mineração S.A e Vale, com 282 mortes e 11 desaparecidos.
3. A mineração traz vantagens para as comunidades
O discurso do desenvolvimento pela mineração ainda não se concretizou no Brasil: promessas de geração de emprego, saúde, educação e habitação não tem acontecido na prática onde os grandes projetos são implantados. Veja o caso do projeto Carajás: passados mais de três décadas, os trabalhadores da região ainda não vivenciaram as tais vantagens da mineração.
Trabalho extenuante e de risco, perseguição política e massacres estão entre as consequências de projetos implantados para atender a demanda mundial de minério. Dessa forma, é necessário discutir o modelo de exploração antes de condenar regiões inteiras ao subdesenvolvimento.
Segundo o Ibase, a lógica de escala desses grandes projetos, como o Carajás da Vale, tenta sobrepor as dinâmicas locais de trabalhadores, comunidades e ciclos ecológicos, ao invés de fortalecê-los de modo que contribua para formas de convívio e acesso a riqueza mais equânimes. Sem falar que a atividade minerária é a que causa mais conflitos no mundo.
4. O modelo de exploração atual é um avanço da tecnologia
O projeto da empresa Sul Americana de Metais – SAM na região da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo, entre Minas Gerais e Bahia, é um exemplo da extravagância desse setor da economia. A iniciativa visa extrair e transportar minério de ferro através de um duto da cidade mineira de Grão Mongol até a cidade portuária de Ilhéus, na Bahia.
A pressão sobre as comunidades e a cooptação de autoridades públicas e lideranças locais nos municípios que devem ser impactados pelo empreendimento da SAM demonstram que o interesse que está sendo gestado não é o da população.
O projeto está se desenvolvendo de maneira acelerada e sem estudos de impacto social e ambiental que contemplem amplos aspectos como a sobrevivência e o acesso das pessoas aos recursos hídricos na região do Rio Pardo.
Em relação ao avanço tecnológico na mineração, é necessário refletir a quem está servindo. As operações, em sua maior parte mecanizadas, dependem cada vez menos da mão-de-obra humana, ao passo que destroem rapidamente as paisagens e ambientes onde se encontram as pessoas e o minério.
É preciso ficar de olhos bem abertos para as mentiras que as mineradoras contam pra nossas comunidades. Temos que ter clareza de que essas empresas querem o lucro só pra elas, deixando para o povo um rastro de destruição e pobreza. Além disso, é necessário pensar um outro projeto de mineração: um projeto popular, em que o povo e o meio ambiente estejam no centro da discussão, e que possamos construir juntos alternativas para o desenvolvimento sustentável da nossa região.
Da Redação