“A destruição do meio ambiente é uma ofensa a Deus, um pecado que põe em perigo todos os seres humanos, especialmente os mais vulneráveis.”
(Papa Francisco)
No dia 13 de outubro de 2024, vindos de comunidades rurais e urbanas de Mascote, Santa Luzia, Camacã, Itabuna, celebramos a 3ª Romaria da Terra e das Águas de Mascote a Jacarandá. Cerca de 300 pessoas, entre camponeses, indígenas, professores, quilombolas, pescadores, estudantes, enunciaram o lema “As mudanças climáticas impactam as águas e as comunidades” e se propuseram a trocar experiências de vida, de luta e de resistência entre os povos que habitam o território da Bacia do Rio Pardo.
Ao todo são 37 municípios e uma população superior a um milhão de habitantes na Bahia e em Minas Gerais abastecidas por esse rio e seus afluentes, como os Rios Panelão, Peixoto, Inhúmas, Córrego do Carneiro, Córrego Verde, São João e São Joãozinho. Suas águas garantem a produção e a reprodução da vida de povos indígenas, quilombolas, geraizeiros, assentados e acampados da reforma agrária, pescadores e pescadoras, marisqueiras e moradores das cidades.
No entanto, a Bacia do Rio Pardo se encontra ameaçada. Em nome do lucro, setores do agronegócio vem se apropriando e destruindo nossa Casa Comum através do uso de agrotóxicos e adubos químicos, do desmatamento, queimadas, irrigação com pivô central para pasto, monocultivos de eucalipto, valas de drenagem e criação de camarão e gado e nos últimos anos estamos vivenciando na região de Mascote, Santa Luzia e região, um aumento das áreas de monocultura de café.
A população da Bacia do Rio Pardo também vem sofrendo constantemente a pressão de mineradoras para a realização de pesquisa mineral e para o uso do território para empreendimentos. Existe a ameaça de um projeto de mineroduto que sairá de Minas Gerais em direção ao Porto Sul, em Ilhéus, cortando a nossa bacia, mas sem a apresentação da viabilidade do empreendimento, seus impactos ambientais, sociais e econômicos para o povo.
Além da ganância dos empresários, o rio Pardo e seus afluentes são ameaçados pela má gestão dos municípios sobre as águas. Os municípios de Mascote e Santa Luzia, por exemplo, continuam sem tratamento de água e esgoto (situação denunciada na Romaria de 2023), o que causa a poluição do rio e de seus afluentes, colocando em risco a saúde de toda a população.
Diante de uma crise ambiental sendo vivida no mundo, cujos efeitos temos vivenciado no país, como as enchentes que assolaram o estado do Rio Grande do Sul e a seca no Amazonas é inaceitável que essa lógica de desenvolvimento continue a comprometer a vida e o direito de permanência nos territórios do nosso povo.
É preciso construir um projeto soberano e popular para a gestão de nossas águas, de forma que este bem tão precioso possa beneficiar o conjunto da população e não para satisfazer somente uma parte da população, os irrigantes de café, criadores de gado ou os criadores de camarão. Quando muitas famílias conseguem ter água de qualidade para beber em Mascote, irrigar seus pastos e engordar bois, outras não tem esse direito, como é o caso das cerca de 140 famílias residentes nas Comunidades de Novo Horizonte e Nova Esperança, comunidades ribeirinhas que ao longo do tempo vem tendo seu direito à água em qualidade e quantidade negado.
Diante de tantas ameaças e desafios para o povo, conclamamos: como as comunidades, movimentos sociais, igrejas, jovens, mulheres que se preocupam com a vida, podem se organizar para defender nossas águas e terras frente à irracionalidade do lucro acima de tudo deste sistema capitalista?
Diante deste contexto, a Articulação Rio Pardo Vivo e Corrente (Bahia/Minas Gerais), soma-se a esta 3ª Romaria de Mascote a Jacarandá 2024 e conclama pela a continuidade deste mutirão do povo e que as bênçãos desta Romaria possam ser o início de um novo ciclo de solidariedade entre as comunidades e grupos que aqui estão presentes de forma a dialogar e reivindicar junto aos gestores públicos recém eleitos a implantação de políticas públicas que garantam a proteção de nossas nascentes, nossas águas e um outro modelo de produção de alimentos que seja capaz de minimizar e reverter a acelerada mudança climática em curso.
A esperança que ecoa nesta III Romaria aponta para a necessidade de uma verdadeira aliança dos povos, organizações, associações, estudantes, pesquisadores, entidades ambientalistas e movimentos sociais comprometidos com um outro modelo de sociedade que respeite os bens da natureza e os povos do campo e da cidade.
Em Tempos Sombrios, Tecemos Esperança!
Por um Rio Pardo Vivo e Corrente!
Mascote, 13 de outubro de 2024.