Agroecologia, preservação ambiental e sistemas agroflorestais são debatidos por agricultores do sul e do sudoeste da Bahia.

No último dia 06 ocorreu a “Oficina de Manejo Agroecológico de Cacau” para agricultores na comunidade Mandim de Cima em Itarantim-BA. O espaço foi uma iniciativa do Centro de Estudos e Ação Social (CEAS) junto à Associação Mandim de Cima e contou com a mediação de Edson Oliveira, técnico da Cooperativa dos Trabalhadores Acampados Assentados e Quilombolas do Sul da Bahia (COOPCETA).

A oficina foi dividida em um momento de roda de conversa sobre os Sistemas Agroflorestais (SAF’s) e outro de prática de manejo e clonagem de cacau no viveiro de mudas da comunidade. Seu principal objetivo foi levantar a discussão sobre a preservação ambiental aliada à produtividade agrícola para o fortalecimento da economia e da autonomia das comunidades rurais.

“Nossa intenção é implantar um SAF com o cultivo de cacau para aumentar a renda das famílias daquela comunidade”, revela Edson. Segundo o técnico, “a proposta do SAF é também recuperar nascentes degradadas pelo desmatamento ou pela pecuária, para que a comunidade possa ter uma qualidade de vida melhor.”

Contexto ambiental

As SAF’s vêm apresentando aos agricultores de Itarantim uma forma de garantir alta produtividade agrícola sem o uso de químicos e sem prejudicar os corpos hídricos dos quais a população rural e urbana do município dependem. A grave seca enfrentada na última década ligou um alerta entre as comunidades que veem mais de 80% das terras do município sendo destinada às pastagens e pouquíssima área de vegetação nativa, fator que agravou a capacidade de recuperação das fontes de água no período.

As comunidades temem ainda a chegada da mineração nas serras da região, tema tratado em audiência pública no mês de agosto. Mais da metade do território de Itarantim está em fase de autorização para a pesquisa mineral, especialmente do nióbio, e uma comunidade chegou a barrar uma empresa de continuar as atividades de sondagem em suas dependências.

“As comunidades estão dando um recado para a sociedade sobre o modelo de desenvolvimento que querem no território”, destaca Simone Jesus da Direção Nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM). Segundo a dirigente, a expansão da atividade mineral no estado da Bahia “tem causado uma série de conflitos entre as mineradoras e as comunidades tradicionais, que não veem outra saída a não ser a defesa do seu território.”

Intercâmbio entre comunidades

A oficina em Mandim de Cima reuniu agricultores de Itarantim, Cândido Sales, Encruzilhada, Vitória da Conquista e Ibirapitanga. O espaço foi marcado pela troca de experiências sobre a construção e a manutenção de viveiros de mudas, das técnicas de produção do cacau e outras culturas e das iniciativas de preservação ambiental como os cercamentos de nascentes que vêm sendo realizados pelas comunidades.

Segundo Clodoaldo Neto do CEAS, “a COOPCETA desempenha um papel importante para fortalecer esse intercâmbio, pois parte de uma experiência muito sólida de produção de cacau orgânico de alta qualidade, avançando na comercialização direta e na construção de redes de Agroecologia por todo Estado.” Segundo o assessor, essa iniciativa permite “a construção de relações estratégicas como o CEAS, a Red Compart, a Rede Povos da Mata, HEKS e ESADE para a continuidade desta produção e comercialização, ao mesmo tempo que defende e constrói territórios socioambientais.”

A cooperativa é uma iniciativa dos trabalhadores assentados e acampados da reforma agrária no sul da Bahia que consegue garantir a sobrevivência de dezenas de famílias ao passo que atua na preservação da Mata Atlântica. “É uma proposta de reestruturação produtiva e comercial através do trabalho coletivo para plantar, colher alimentos de qualidade e comercializar parte do excedente”, arremata Clodoaldo.

Luis Neves, presidente da Associação Mandim de Cima agradeceu a presença de todos na comunidade e nos conta que “a oficina entrou para a nossa história, animou a associação e a região, ninguém esperava uma oficina de cacau no Mandim de Cima. Aqui tem mais é pecuária e também a agricultura, mas depois dessa oficina despertou o pessoal a querer plantar cacau.”

Luis saudou a relação da Associação com o CEAS, destacando o esforço do cercamento de nascente realizado esse ano na comunidade. “Só motivando, né, ensinando a cuidar do meio ambiente, das nascentes. O Mandim de Cima só tem a agradecer pela parceria e no ano que vem tem mais coisas boas aí”, conclui.

A Oficina de Manejo Agroecológico de Cacau faz parte de uma ampla agenda organizada pelo CEAS, Articulação Rio Pardo Vivo e Corrente e COOPCETA e já discutiu a produção agroecológica de cacau e umbu gigante em diversos municípios no sul e no sudoeste do estado. Além das oficinas, as atividades incluem mutirões de cercamento de nascentes, construção de viveiros de muda e momentos de formação nas comunidades.

Comunicação CEAS

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