Aconteceu no último dia 14 na comunidade Água Vermelha em Itarantim a oficina “Cacau, agroecologia e nascentes”. O momento foi facilitado pelo técnico agrícola Rubem Dário da Cooperativa dos Assentados, Acampados e Quilombolas do Sul da Bahia (COOPCETA) e contou com dezenas de agricultores interessados no manejo ecológico e produtivo da cultura do cacau.

O primeiro momento da oficina foi uma roda de conversa sobre a produtividade do cacau em sistemas agroflorestais (SAF), prática que combina a produção sem o uso de químicos e contribui na preservação de nascentes e áreas degradadas. O segundo momento foi a parte prática de manejo e clonagem de cacau realizado nas áreas de produção da comunidade.

Itarantim situa-se na Bacia Hidrográfica do Rio Pardo, bacia que vem sofrendo danos ambientais por diversos setores econômicos, como a mineração e o monocultivo de eucalipto.

Os principais cursos de água do município são os córregos do Nado, Mandim, Jundiá, Laranjeiras, além do Rio Maiquinique e Ribeirão. Itarantim possui também corpos d’água subterrâneos com vazões significativas, responsáveis por abastecer a produção agropecuária e a cidade fundamental para a economia da cidade.

O processo histórico de avanço da pecuária levou o município a perder mais de 90% de sua vegetação nativa, sendo que mais de 80% das terras de Itarantim estão destinadas às pastagens

Itarantim vem sendo também alvo da expansão da mineração no estado da Bahia, cerca de 70% do seu território está com autorização da Agência Nacional de Mineração (ANM) para a pesquisa mineral, principalmente nióbio, sendo que a empresa mineradora vem entrando e perfurando nas áreas sem autorização dos proprietários. A produção de nióbio é geralmente feita a céu aberto e nela são retiradas toneladas de solo e subsolo para aproveitar pequenas quantidades do mineral (cerca de 2,5%).

Para Fabiano Paixão, coordenador do Movimento pela Soberania popular na Mineração (MAM) na Bahia, “a exploração do nióbio, sobretudo nas serras de Itarantim, tende a afetar drasticamente a situação hídrica do município, principalmente para os pequenos agricultores que dependem exclusivamente desses mananciais.” O militante afirma que “a questão se torna ainda mais grave quando a população afetada não é integrada na discussão sobre o projeto que tem como único objetivo a exportação do minério.”

Enquanto isso, as associações de agricultores apostam noutra direção. Rubem Dário (COOPCETA) nos fala que o objetivo das oficinas em Água Vermelha e Lodo foram “estimular os produtores a iniciarem os SAFs através da reestruturação produtiva.” O técnico agrícola ressalta que o esses sistemas com arvores frutíferas e nativas “se propõem a recuperar as áreas degradadas destinadas à produção, mas também as áreas de preservação permanente, em especial as nascentes.”

José de Abreu, agricultor da comunidade Água Vermelha considerou a oficina como de grande importância para a implementação dos SAFs em Itarantim: “plantando o cacau, plantando a banana, o cajá, as frutíferas nós estaremos trabalhando muito para reforçar as nossas nascentes.”

A oficina “Cacau, agroecologia e nascentes” foi uma realização do Centro de Estudos e Ação Social (CEAS) em parceria com a Associação dos Agricultores da Comunidade Rural da Água Vermelha, o Observatório do Rio Pardo e Robson Dantas.

Comunicação CEAS

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